Árias e Mosaico

“A qualidade do trabalho deste grupo atravessou as fronteiras do estado.”

Em meados dos anos 1980, surge em Goiânia a Academia de Dança Energia, uma sociedade formada pelos então bailarinos, empreendedores e profissionais liberais Fernando Madueño  e Tarcísio Clímaco, que queriam, na época, trazer uma nova proposta de romper o padrão academicista e a mesmice que dominava o cenário da dança goianiense.

Isso se deu a partir da passagem pela cidade de bailarinos como Lenny Dale, com seu estilo Dzi Croquettes, e posteriormente com Victor Navarro e Márcio Rongetti, que apresentaram uma nova linguagem contemporânea na estreia nacional do espetáculo Paixão.

Alunos de outras academias também aderiram a essa proposta. Surgia, então, o Grupo de Dança Energia, libertário, criativo, irreverente e, sobretudo, diferente. Seus espetáculos, além de mostrarem sempre duas propostas de linguagem, em razão das diferentes formações dos coreógrafos, tinham em sua essência um fio condutor, uma estória, diferentemente da miscelânea de coreografias tão comuns aos espetáculos de fim de ano.

A qualidade do trabalho deste grupo atravessou as fronteiras do estado e, apesar do vínculo com a academia, foi o
primeiro a assumir características de uma companhia independente e o embrião do que viria a ser a nossa querida Quasar Cia. de Dança, apresentando-se e conquistando prêmios em vários festivais Brasil afora, no Rio de Janeiro, em São Paulo, Salvador, Brasília e Joinville. Fizeram parte, em algum momento dessa trajetória, além dos coreógrafos Julson Henrique Pereira,

Tarcísio Clímaco, Fábio Marques e Maria Inês Siqueira, os bailarinos Carlos Soares, Cida Lino, Durval Ibler, Fábio Peclát, Fernando Madueño, Henrique Rodovalho, Hugo Montalvão, Gianna Guerrante, Cláudia Cesário, Mônica Nogueira, Ricardo Café, Simone Magalhães, Syonara Okada, Vanderlei Alcantara, Vera Bicalho, entre outros.

Essa foto é um momento de ensaio, no palco do Teatro Goiânia, do espetáculo Árias, de Julson Henrique Pereira. Em cena estão, da esquerda para a direita, Hugo Montalvão, Durval Ibler, Fábio Peclát, Vera Bicalho, Simone Magalhães e
Syonara Oko Okada. Neste trabalho, Julson imprime todo seu talento, criatividade e ousadia, em todos os sentidos,
desde a composição coreográfica, passando pelos figurinos, cenografia, iluminação, e o mais importante, a trilha sonora, uma seleção de árias de óperas, como “Carmem”, “Madame Butterfly” e “Turandot”, dentre outras, remixadas pelo músico e produtor britânico Malcom McLaren, que foi a fonte inspiradora que deu nome ao espetáculo.

A evolução de Julson Henrique e seu amadurecimento coreográfico ficaram explícitos, rompendo definitivamente as barreiras do academicismo. Um espetáculo arrebatador, o último e mais relevante trabalho deste coreógrafo, que injusta e precocemente nos deixou, assim como o bailarino Durval Ibler, um pouco antes dele. Árias mostrou ao público goianiense, principalmente, que os espetáculos de fim de ano das academias, tão comuns e obrigatórios à época, podiam ser diferentes, e foi, sem sombra de dúvidas, um divisor de águas na cena goiana, abrindo espaços para que outros grupos surgissem, arriscando-se em novas linguagens.

"Essa coreografia foi eu e Delei que fizemos."

por: Simone Magalhães

Sobre o grupo

Grupo de Dança Energia

Grupo independente que abriu um processo de profissionalização da dança contemporânea goiana, apresentando temporadas de seus espetáculos na capital, no interior de Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, além da participação em vários festivais de dança contemporânea. Criado em 1983, por Tarcísio Clímaco, Fernando Madueño e Julson Henrique. Em 1984, o grupo passa a ser dirigido por Julson Henrique e Maria Inês de Castro. Em 1986, passa a se chamar Energia Núcleo de Dança, com direção artística de Julson e direção administrativa de Maria Inês. O último espetáculo foi “Árias e Mosaico", que estreou no Teatro Goiânia, em dezembro de 1986. Em maio de 1987, fez sua última apresentação representando Goiás no Levante Centro-Oeste, organizado pela FUNARTE, em Brasília. Logo após, encerrou suas atividades