“uma maneira legítima de expressar sentimentos e desejos latentes em nós naquele momento.”
Uma bela imagem…sobre um belo momento, há muito tempo.
Não tenho certeza, por ter sido há muito tempo, mas acho que esta bela foto foi tirada em 1986, no Rio de Janeiro, na última vez que esta coreografia foi apresentada.
Um pouco antes, em meados de 1985, Valéria Figueiredo, Carlos Soares e eu, que fazíamos aulas e dançávamos juntos em alguns lugares, resolvemos participar de um festival competitivo de dança, realizado naquele mesmo ano, aqui em Goiânia, no Ginásio Rio Vermelho, para escolas e grupos do estado de Goiás. Creio que este festival só aconteceu uma vez.
Pedimos para não dançar com as escolas e os grupos que já fazíamos parte e resolvemos criar um próprio, só nós três, que se chamou Palco. Fizemos isto porque tínhamos vontade de dançar uma coreografia mais próxima das nossas vontades e dos nossos pensamentos sobre a dança naquela época. O Carlos Soares foi quem concebeu a maior parte das ideias e da coreografia, surgida em sua maioria a partir de uma música de Keith Jarrett, “The Köln Concert Part 1”, com 26 minutos de duração e puro improviso no piano. Destaco isso como algo importante porque esta canção contribuiu inteiramente na concepção coreográfica e no específico momento em que dançávamos.Utilizamos algumas cadeiras e panos brancos para ajudar na composição da cena, um figurino para cada um e muita paixão dos três em dançá-la.
Além da recompensa por ter dançado esta coreografia, fomos premiados com o segundo lugar na categoria Coreografia Grupo, ficando em primeiro o Grupo Energia, de Julson Henrique e Maria Inês, e também em segundo lugar na categoria Duo.
Devo confessar que, como bailarino, foi uma experiência única! Não me lembro de outro momento em que me envolvi tanto no movimento, na música e na interpretação como este. Claro que é uma memória emotiva muito forte que tenho guardada comigo, mas acho que foi assim também para a Valéria e o Carlos.
É difícil fazer hoje uma avaliação mais crítica sobre o que foi este trabalho, principalmente por não me lembrar direito ou por não ter algum tipo de registro em vídeo, mas penso que só a iniciativa de se buscar algo mais próximo e verdadeiro para nós três já foi muito importante. Não tínhamos a vontade de buscar o novo na dança, mas de nos fazermos com ela, de uma forma até então não muito consciente, uma maneira legítima de expressar sentimentos e desejos latentes em nós naquele momento. E acho que conseguimos. Obrigado, Carlos e Valéria!
Com breve duração no ano de 1986, o grupo arriscou em busca de novas linguagens do movimento, por uma necessidade de autoria artística. Participou de vários festivais de dança entre Goiânia e Rio de Janeiro.