“O ritmo sincopado da trilha sonora sugerindo o movimento de um trem, mesclado à intensidade de um tema passional.”
Tive o privilégio de dançar essa coreografia da foto no papel do capitão traído, e adorei!
O ritmo sincopado da trilha sonora sugerindo o movimento de um trem, mesclado à intensidade de um tema passional, tendo como personagens a família de um capitão militar, sua bela esposa e um amante atrevido, contextualizado no espaço de um vagão em movimento, torna esse espetáculo um dos mais ricos e interessantes que já vi.
A simplicidade dos movimentos, não menos plasticamente belos, passa uma energia de suspense e torcida que deixa o espectador a roer unhas, devido à expectativa de que a traição pudesse ser desvendada pelo militar traído a qualquer momento. O Julson foi muito feliz ao “parir” uma coreografia tão bela!
Como engenheiro civil, fui exportado para Goiás por uma empreiteira de terraplenagem de São Paulo para fazer uma estrada; trazia comigo uma experiência de semiprofissionalização em dança, processo esse interrompido pela oportunidade profissional que se descortinou, estimulada por um bom salário e pela vontade de dar uma quebra na dedicação à dança e seu contexto de muito ensaio, sempre em ambientes fechados entre quatro paredes e de pouco contato com a natureza.
Após dois anos como engenheiro de trecho em Goiás, de “bobeira” em Goiânia esperando acertos trabalhistas, fui procurar as escolas de dança da cidade. Optei pela Movimento, onde passei a fazer aulas com Julson Henrique, que, como professor e coreógrafo, praticava um mix de jazz e dança contemporânea. Era professora de ballet clássico nesta mesma escola a Deise Pires, esposa do bailarino e coreógrafo Tarcísio Clímaco, praticante de um estilo pautado no folclore brasileiro e na capoeira, que dava aulas e pertencia ao corpo de baile do Mvsika!.
Em poucos meses, impulsionado pela minha experiência em dança trazida da capital paulista, já estava participando de ensaios, frequentando as rodinhas de jovens artistas, fotógrafos, jornalistas, estudantes de Arquitetura, próximo de Julson Henrique e Tarcísio Clímaco, de bailarinos, professores de dança e coreógrafos, empregados de outras escolas que, como eu, estavam ávidos por traçarem trajetórias próprias e terem seus próprios negócios nesse ramo da dança.
Desse fermento lançado em terreno fértil, com uma proposta jovem e empreendedora, nasceu a Energia, Ginástica e Dança: uma parceria entre meu jeito metódico e organizado de ser e o talento e a necessidade de voos solo do Tarcísio e do Julson, que nos levou aos festivais de dança em Salvador e Brasília, nos possibilitou profissionalizar toda uma equipe de professores e investir numa geração de bailarinos, futuros coreógrafos e professores.
É dessa fornada o diretor e coreógrafo da Quasar, Henrique Rodovalho, que na nossa escola chegou como estudante de Educação Física e, rapidamente, engrossou o caldo de outros talentos no Grupo Energia, como Cida Lino, Yaná Caixeta, Vanderlei Alcântara, Simone Magalhães, Maria Inês Castro, Vera Bicalho, e muitos outros.
A partir de uma turma de jazz, Julson Henrique inicia um trabalho experimental e autoral desdobrados na coreografia “Trem de Nina”, de 1982. Essa coreografia participa de importantes festivais nacionais da época e é um marco em sua trajetória artística.