Dançadeira

“É crer que a dança pode ser vivida e compreendida de forma ampliada, como realidade estético-sensível.”

dan.ça.dei.ra – adj. fem. aquela que muito dança; subst. fem. momento catártico em que vários dançam; ver: dançadora.

1. puro deleite!

2. celebração intensa dos desejos de cidadãos dançantes; daqueles que se encontram às margens, sem saber se sabem/devem/podem dançar ou não, mas que possuem a dança dentro!

3. dança cênica contemporânea, feita por pessoas com muita vontade, a maioria egressa (ESEFEGO) ou da comunidade frequentadora das casas de dança da cidade de Goiânia.

4. figurativo: epifania em forma de cena dançada; sensação profunda de realização, solução de frustrações e dúvida sobre determinada angústia; manifestação de desejo maior; aparição iluminada.

Dançadeira é um espetáculo forte, sensorial e crítico, provoca o riso, o disparo do coração e a memória das mãos suadas quando o garoto mais descolado do baile te chamava para dançar. Ainda há, no drama desvelado,
o idoso solitário no canto, na tentativa de uma aproximação, a dancinha alegre em que todos seguem um líder e os B-boy/girl descolados.

E, sendo ousado, trans(borda) a realidade de diferentes cidadãos dançantes, que, em um palco-casa de dança (daqueles de bairro, como a extinta casa próxima ao Parque Mutirama, ou ao lado do Teatro Inacabado), vivem e trans(piram) o drama que ali se desenrola.

A diversão é certa, garantida pela dança-teatro interessante e embalada por músicas variadas, desde a original sanfona sincronizada com um baticum moderno, até o “Total Eclipse of the Heart”, de Bonnie Tyler. O figurino é um misto de vestidos curtos, vermelho e nude, provocantes, pernas à mostra, saltos, calças e camisas sociais marrons, bermudas e camisetas urbanas sem tipo, todas MA.RA.VI.LHO.SA.MEN.TE desenhadas para fazer a estrela de cada um BRI.LHARRRR!

O clima cafona e realista (quem nunca?) segue com cabelos que cheiram a naftalina e laquê: grudados na cabeça, soltos em cachos, crespos estilizados, rebeldes. A sexualidade transparece nas bocas vermelhas, nas sombras verdes/azuis, no lápis preto e no blush! A cenografia lacra esse sonho-realidade com pedaços de televisão quebrada, ventiladores e pneus presos a uma grande lona  off-white, que ora é colorida por luzes alegres, ora por chapiscos estonteantes refletidos pelo globo espelhado.

Além de ser surpreendente, Dançadeira é fruto do esforço de jovens quase sem experiência formal e prévia em dança, que, disponíveis, encontraram uma brecha e dançaram! É crer que a dança pode ser vivida e compreendida de forma ampliada, como realidade estético-sensível, aberta a todos que compreendem crítico-socialmente o mundo. É também uma construção peculiar e contraditória de deleite e celebração, em que o corpo e os gestos podem ser vivenciados em toda a sua completude e com todas as suas diferenças e intrigas.

“A partir desse espetáculo, onde todo mundo mergulhou tão profundo [...]”

por: Hilton Junior

Sobre o grupo

¿por quá? grupo de dança

Criado em 2000, na ESEFFEGO, como um grupo de caráter experimental, pelos professores Luciana Ribeiro e Adriano Bittar. Se torna autônomo em 2011, transitando na cena artística e na cena sócio-política-cultural mais ampla. Em 2013 abre a casAcorpO, espaço próprio, onde realiza seus diálogos artísticos com a cidade.