Registro

“Eu achei muito requintado dentro da linguagem do Henrique."

por: Lavínia Bizotto

Uma brincadeira recorrente, feita por quem conheceu o espetáculo Registro naquele ano de sua estreia (1997), era dizer que a obra de Henrique Rodovalho era o Titanic da dança contemporânea. Uma referência ao “The Academy Awardse ao filme Titanic. O fato é que o Prêmio Funarte daquele ano concedeu à Quasar (o que consideramos um relevante serviço prestado ao registro cultural humano) cinco das dez estatuetas do prêmio mais emblemático das artes cênicas brasileiras, entre elas, a de Melhor Espetáculo.

E, de fato, Registro foi capaz de arrebatar plateias. Talvez pela simplicidade de seu discurso na forma de resgatar um tema que estava afastado de qualquer pretensão de descrição pelos movimentos artísticos: a necessidade de se registrar os momentos de afeto em busca de perpetuá-los.

É provável que, nos dias atuais, ou seja, dezoito anos depois de sua criação, a discussão sobre este trabalho pudesse ser mais aprofundada e ligada à necessidade de estampar felicidade através das redes sociais, que hoje é discutida até por filósofos. Mas naquele tempo a foto mal tinha se tornado um arquivo digital. Ainda assim, Henrique expiou nas cenas que produziu a imagem que está por trás do espetáculo. Algo que revelava mais do que havia na imagem congelada.

O desejo do criador era o de captar o instante fugaz em que nos preparamos para a foto que estampa a chapa do retratista. Um instante e uma emoção muitas vezes falseados pelo retratado.

Registro era uma dança feita para satisfazer nossos sentimentos mais doces sobre o afeto e os desejos humanos, mas também foi fonte para o debate de nossos sentimentos mais contraditórios. Uma obra que fez do palco um grande porta-retratos e reuniu, na trilha sonora, no cenário, na iluminação, elenco e movimentos, dimensões de uma cultura brasileira forte, dinâmica e audaz.

"Era uma dança feita para satisfazer nossos sentimentos mais doces sobre o afeto e os desejos humanos."

Sobre o grupo

Quasar Cia de dança

Criada em 1988, por Vera Bicalho e Henrique Rodovalho, foi a primeira companhia totalmente independente de Goiás. Teve reconhecimento nacional logo no início da década de 1990 e alçou voos internacionais compondo o rol de companhias de dança contemporânea do Brasil há mais de 25 anos.