O espetáculo foi extremamente ousado, sendo colocado como um marco da tendência contemporânea de dança no Brasil. O espetáculo “Paixão” teve sua estreia em Goiânia, em dezembro de 1982, no Teatro Goiânia.
“Abre-se uma nova etapa para mim, uma etapa que deverá dar os frutos que semeei durante a minha experiência como ser humano, anseios, paixões, ideias e esperanças que tenho cultivado com o maior respeito e carinho para não destruir minha própria integridade.
Estou partindo das minhas necessidades, relacionadas ao mundo que vivo e as pessoas que me rodeiam. Tento satisfazer-me para manter-me alimentado física e espiritualmente. Foi pra mim necessário a tentativa de construir minha companhia de dança, pois só assim, disporia de artistas relacionados a mim e com quem poderia trabalhar ininterruptamente e assim construir uma linguagem própria, a qual partiu inevitavelmente das minhas raízes espanholas, da paixão que a dança espanhola tem, dessa raça tão sofrida e orgulhosa, do mistério que a envolve e que faz aos seus poetas estremecer.
“Paixão” representa pra mim algo mais do que um simples espetáculo, representa o meu momento com a vida, meu momento como artista. Nele coloquei os meus estados de espírito, nada além disso. Misturei sonhos e as realidades, criei personagens que me fogem ao conhecimento, desenhei a linguagem e dei cor aos sentimentos. Vivi cada instante com os bailarinos, penetrei num universo musical, novo pra mim, onde os sons, as vozes e os ritmos se interligam para criar novos espaços e atmosferas.” VICTOR NAVARRO
“Nossa, foi muito bom. Foi uma coisa, uma coisa assim, sabe, pra Goiânia? Que chega em Goiânia um espetáculo totalmente diferente, um espetáculo ousado, onde os rapazes, pela primeira vez, dançavam de tapa sexo” – Ana Maria Alencastro Veiga “Sinhá”.
“… Paixão” foi uma paixão completa, foi arrebatador. Acho que foi o espetáculo de dança mais impressionante que eu já vi na minha vida. Foi, não só pelo contexto que eu tava começando a atividade. É como se um músico começa a tocar violão, e na hora que ele começa a tocar umas musiquinhas, vem o Eric Clapton e faz um show na casa dele. O Eric Clapton foi lá em casa. Então quando o Victor veio aqui com Paixão, foi uma coisa arrebatadora, Paixão é uma trilha fantástica, uma cenografia fantástica e a dança pura, né, porque eram seis bailarinos praticamente nus dançando, eram três homens e três mulheres, só, e nada, tudo preto, pouca roupa e, pra mim, é um dos espetáculos referenciais que eu já vi até hoje.” – Marcelo Sáfadi.
“…quando Victor Navarro esteve aqui em Goiânia, foi um boom tão grande… de coisas, de música diferente, de bailarinos diferentes, de concepção coreográfica diferente, de figurinos diferentes, porque quase não tinha figurino. Então foi um escândalo porque eu tinha diretora de uma escola de um lado e Julson Henrique de outro. A diretora de uma escola muito tradicional que achou um horror ter visto tudo o que viu, e o Julson maravilhado de ter visto tudo o que viu…” – Simone Magalhães.
A companhia é criada concomitante à criação do espetáculo “Paixão”. Victor convidou bailarinos que ele mais gostava e que já haviam dançado suas coreografias e falou da vontade de fundar sua companhia. Fez uma primeira estreia em Goiânia, em dezembro de 1982 e, em São Paulo, no Centro Cultural, em fevereiro de 1983. Logo após saem para uma pequena turnê no mês de março por Salvador, Brasília e, novamente, Goiânia. Assim, a Victor Navarro Cia. de Dança estava criada e com alguns goianos na ficha técnica. Em 1984, transfere a sede da companhia, de São Paulo para a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. A companhia se manteve até 1987.
