Provocar o olhar para a dança a partir de vários olhares.

Esse é o propósito desta exposição. E foi na constituição e publicização de uma cartografia da história e da memória da cena artística da dança em Goiânia que cruzamos os nossos desejos. Assim nasceu essa mostra, um convite para olhar a história da dança goianiense com base em experimentações estéticas, emolduradas por percursos modernos e contemporâneos que compõem parte da dança produzida na capital.
Nossa inspiração inicial partiu de grupos e de iniciativas que provocaram o surgimento e as inserções estéticas modernas e contemporâneas entre 1970 e a primeira década dos anos 2000. Um processo de escolha bastante difícil, pois descobrimos um denso universo, apresentado aqui como a primeira etapa de uma extensa pesquisa.
Iniciamos uma trajetória que emergiu da junção de experiências acadêmicas como pesquisadores na área da história da dança e da memória, de nossos próprios acervos pessoais e de vidas artísticas constituídas na cidade.
Um processo que se deu a partir de escolhas cuidadosas e afetivas,
na perspectiva do sensível, com o intuito de revelar e aproximar contextos, tendências e relevâncias históricas e estéticas da dança em Goiânia.
Entre aproximações, podemos dizer que a década de 1970 promoveu a institucionalização da dança na região, dando origem a um cenário de pioneirismo importante na formação de professores e bailarinos goianos. Na década de 1980 as experimentações e o alargamento das fronteiras artísticas estavam em evidência, e os espaços de formação e produção específicos na área se consolidaram, proporcionando o surgimento de grupos independentes. Nos anos de 1990 vimos a cena goiana entrar nos circuitos nacional e internacional e o desabrochar de jovens coreógrafos. Finalmente, na década de 2000, a experimentação autoral, a pesquisa acadêmica, as linguagens e as estéticas se amalgamaram nos grupos, reverberando esses caminhos diversos percorridos pela dança.
Portanto, esta é uma exposição composta por camadas.
Convidamos um grupo de pessoas para contar e registrar suas próprias histórias, cruzando essas memórias e ressaltando as diferenças e os distintos modos de se fazer e apresentar danças/estéticas. Uma esfera foi o encontro que se deu por meio das imagens vindas dos acervos pessoais e que nos contaram histórias paralelas e pouco conhecidas. Depois os depoimentos orais que revelaram percursos desconhecidos e impressões particulares atravessadas por temporalidades e subjetividades. Por fim, os textos, que ampliam o contexto das épocas produzindo outro ambiente de conhecimento dos grupos.
As tramas se cruzam!
Entre impressões e gerações, esta exposição explicita principalmente a capacidade que o ser humano tem de deixar rastros e de se encontrar em suas memórias e nas memórias dos outros. É essencial conhecermos nossa própria história, bem como valorizar a memória daqueles que nos fazem ressignificar o presente.
Sem verdades absolutas!
Dessa forma, fomos em busca de trajetórias artísticas, não necessariamente contínuas e/ou estáveis, mas que abriram espaços e olhares. Micro-histórias repletas de vazios, de buracos que, por vezes, se mantiveram no experimentalismo, no anonimato, na simples vivência e também no esquecimento. Traços e iniciativas que romperam com a atitude canônica e admitiram referências em busca de autoria e de autonomia, esse foi o modo como olhamos para essas narrativas e para esses olhares que aqui multiplicamos.
Priorizamos as escolhas estéticas, políticas e culturais.
Passeamos por vidas artísticas de exploradores e inventores de arte que criaram brechas para fugir dos tradicionalismos, propondo espaços arejados, práticas de exploração do movimento e singularidades no corpo. Tais memórias e fragmentos, apesar de singulares, contextualizam bem um passado recuperado no presente e que tem o compromisso de ampliar a possibilidade de construções de novos conhecimentos críticos desta realidade.
Respeitando a diversidade de estéticas e experiências, propomos janelas para a imaginação e as interpretações da dança cênica,
que constituem também uma tradição, com histórias fundamentais na formação e educação da comunidade, valorizando e preservando a nossa memória. Isto porque encontrar com aqueles que pertencem e constituem esse universo é também dar sentido as nossas próprias experiências.
Com isso, buscamos abrir caminhos e instigar os diálogos nos quais a memória possibilita transformar a história e ressignificar nosso cotidiano por meio das vozes dos sujeitos que fizeram e fazem parte desta história. Indo em busca de lugares múltiplos, dialógicos, experimentais e insurgentes apresentamos a vocês esta atmosfera particular da dança e da arte em Goiânia.
A descoberta Anos de estudo e pesquisas: Era no amanhecer Que as formigas escolhiam seus vestidos.
Manoel de Barros

Ficha técnica

Realização

Apoio Institucional

Colaboração

Apoio cultural